IV Conferência Anual de Antropologia do Ambiente

30 de setembro / 1 de outubro de 2023

Auditório DCV, Colégio de São Bento, Universidade de Coimbra

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Dados para assistência online via zoom:

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PROGRAMA

DIA 1: 30 de setembro de 2023
10:00-10:15SESSÃO DE ABERTURA
Prof.ª Doutora Cristina Padez (Coordenadora, CIAS, Univ. de Coimbra, Portugal), Prof. Doutor António Piedade (SGL, Portugal), e Profª Doutora Juliana Abonízio (UFMT, Brasil)

10:15

PAINEL I – ECOSSISTEMAS E URBANIDADE
10:15-10:35Abandono de tartarugas em Portugal: O papel dos guardiões na disseminação de espécies exóticas
Rúben Filipe Galvão Cunha
– Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, Univ. de Lisboa, Portugal – CIAS, Universidade de Coimbra, Portugal
10:35 –10:55Antropologia Multiespécie: Diferentes especificidades da comunicação entre tutores e cães
Roberto Ismael de Oliveira Curi Hallal
– Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, Univ. de Lisboa, Portugal – CIAS, Universidade de Coimbra, Portugal
10:55 – 11:15Ilpuli leCorona: Consumo ritual de carne na intersecção da pandemia e do Pentecostalismo
Joana Roque de Pinho
– Investigadora Integrada, Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL), Centro de Estudos Internacionais, Lisboa, Portugal – Natural Resource Ecology Laboratory, Colorado State University, Fort Collins, CO, EUA

11:15-11:45PAUSA PARA CAFÉ

11:45PAINEL II – CIÊNCIA PÚBLICA , IRRESPONSABILIDADE ORGANIZADA E DESASTRES AMBIENTAIS
11:45-12:05O papel da ciência pública na proteção dos conhecimentos tradicionais dos povos indígenas: um estudo de caso na Amazônia brasileira
Priscilla Cardoso Rodrigues
– Instituto de Ciências Jurídicas e do Instituto Insikiran de Formação Superior Indígena da Universidade Federal de Roraima, Brasil – Doutoranda da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, Portugal
12:05-12:20Ciência pública, antropologia e Fukushima Daichi
Catarina Casanova
– Investigadora Integrada, CIAS, Universidade de Coimbra, Portugal – Prof. Associada, ISCSP, Univ. de Lisboa, Portugal
12:20-12:40Explorando as Possibilidades do Bem Viver e do Ecossocialismo como Modelos de Transição Sistêmica Revolucionária
Henrique Pereira Moreschi
– Mestrando em Estudos de Cultura Contemporânea, UFMT, Brasil
12:20 – 15:00ALMOÇO
15:00 – 17:30MESA REDONDA MULTIDISCIPLINAR: POVOS ORIGINÁRIOS, DIREITOS HUMANOS E RESPONSABILIDADE AMBIENTAL Alexandra Aragão (Oradora) – Professora Associada, Faculdade de Direito da Univ. de Coimbra, Portugal – Rede Ibero-Americana para a Justiça e Sustentabilidade Social
Dinamam Tuxá (Orador) – Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), Brasil – Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (APOINME), Brasil
André Valécio (Orador) – Centro Universitário Ibero-Americano – Pós-doutorando no Programa de Democracia Política e Direitos Humanos, Universidade de Coimbra, Portugal – CIAS, Universidade de Coimbra, Portugal
Gonçalo D. Santos (Moderador) – Professor Auxiliar, Antropologia, DCV, Universidade de Coimbra – Investigador Integrado, CIAS, Universidade de Coimbra
17:30-17:45ENCERRAMENTO DA CONFERÊNCIA
19:30JANTAR DA CONFERÊNCIA
DIA 2: 1 de outubro de 2023
10:30Visita ao Jardim Botânico da Universidade de Coimbra

LIVRO DE RESUMOS

PAINEL I – ECOSSISTEMAS E URBANIDADE
Abandono de tartarugas em Portugal: O papel dos guardiões na disseminação de espécies exóticas
Rúben Filipe Galvão Cunha
– Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas – Universidade de Lisboa, Portugal – CIAS, Universidade de Coimbra, Portugal
Esta investigação procura descrever a degradação dos laços afiliativos entre guardiões e tartarugas, que pode levar ao abandono e disseminação de tartarugas exóticas em Portugal.  No estudo abordámos a relação entre guardiões e tartarugas, e foi possível verificar que esses vínculos tinham uma base quotidiana afetiva e emocional sólida. No entanto, há casos em que essa relação se incompatibilizou, desencadeando o abandono das tartarugas. Alguns guardiões não têm conhecimentos sobre o impacto ecológico que praticam ao largar as tartarugas no ecossistema nacional.   Algumas das razões analisadas que levaram ao fim da relação foram: dificuldades económicas, perda de interesse do guardião e mudanças de quotidiano, levando-os a entregá-las a alguém confiável. Não obstante, existem alguns guardiões que decidiram deixar as tartarugas em lagos e/ou rios como afirmaram nas entrevistas, defendendo estar a fazer o melhor para as tartarugas, quando na realidade não o estão.  A introdução de tartarugas exóticas nos ecossistemas surge da crescente demanda por parte de alguns países, levando à libertação em habitat natural pelos guardiões, que somado a alteração e destruição dos ecossistemas e a capturas intencionais para venda, ameaçam às duas espécies autóctones de tartarugas (Mauremys leprosa e Emys orbicularis).  A recolha de dados foi feita a partir das entrevistas semiestruturadas (N=16), inquéritos por questionário (N=415) e observação online no grupo do Facebook “Tartarugas/Turtles Portugal”, onde se verificou esta vertente do abandono e a importância da sensibilização dos guardiões e publico em geral, de forma a combater esta situação que ameaça a fauna endémica e respetivos habitats
Palavras-chave: Antropologia Multiespécie, Tartarugas, Animais de Companhia.  
Antropologia Multiespécie: Diferentes especificidades da comunicação entre tutores e cães
Roberto Ismael de Oliveira Curi Hallal
– Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, Universidade de Lisboa, Portugal – CIAS, Universidade de Coimbra, Portugal
Este estudo (2021/2022) investigou as formas de comunicação entre díades multiespécie, colocando guardiões e cães como narradores das suas próprias “versões do quotidiano” compartilhado. Os laços afiliativos que unem humanos e cães, vêm dando agência aos últimos na sociedade, para além de um lugar especial nas famílias humanas, tornando-os co-construtores de relações sociais multiespécie profundas com componentes afetivas, emocionais e de amizade. Através de uma aproximação etnográfica, conduzimos 17 entrevistas semiestruturadas, alargando horizontes metodológicos ao recorrer a técnicas como a observação quantitativa /etológica (utilizando o cronograma das espécies) durante 5 amostras focais para cada díade. Estas observações ocorreram todas no “ecossistema doméstico”, que incluía locais de passeio e trabalho, considerando o tipo de treinamento dado, a idade do cão e as condições nas quais o cão chegou ao lar, já que os seres humanos e animais não humanos (ANH) se expressam de diferentes formas. Assim, procurámos compreender, dentro do quotidiano partilhado, o impacto e o papel da comunicação no reforço da relação entre as díades estudadas. Os resultados obtidos (análise de conteúdo e análise etológica) mostram que as relações investigadas contradizem os esquemas simplistas e reducionistas mais tradicionais da antropologia (ex.: paradigma natureza-cultura) e é visível a emergência de uma mudança com novas relações sociais multiespécie pautadas por dimensões afetivas, comunicacionais e emocionais estreitas nos núcleos familiares multiespécie. Estas novas afiliações são também o resultado do abandono de paradigmas desatualizados (ex.: excepcionalismo humano) de natureza profundamente antropocêntrica, prejudiciais à ecologia do planeta e que foram substituídos por concepções mais intersecionais.
Palavras-chave: Antropologia Multiespécie, Comunicação entre espécies, díades cães-guardiões.

Ilpuli leCorona: Consumo ritual de carne na intersecção da pandemia e do Pentecostalismo
Joana Roque de Pinho
– Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL), Centro de Estudos Internacionais, Lisboa, Portugal – Natural Resource Ecology Laboratory, Colorado State University, Fort Collins, CO, EUA
Os ilpuli (sing. olpul) são acampamentos onde pastores Massai do Quénia fazem consumo ritual de grandes quantidades de carne e ervas medicinais. Têm alternadamente sido descritos como banquetes masculinos de carne e “sistemas holísticos de saúde”. Na prática, os participantes, exclusivamente  do sexo masculino, reúnem-se e acampam em zonas recônditas de mato, longe das aldeias, onde socializam e rezam ao mesmo tempo que comem carne e consomem medicina tradicional. Durante a pandemia da COVID-19, os ilpuli foram objeto de um renascimento nas comunidades Maasai do sul do Quénia. Quando notícias da pandemia na Europa e das medidas de confinamento chegaram ao Condado de Narok, “os homens correram para o mato” para se juntarem aos ilpuli. Este trabalho pergunta o que motivou esta resposta. A apresentação baseia-se em dois anos de trabalho de campo “remoto” realizado por colaboradores Massai, seguidos por trabalho de campo presencial ( 2022-23) em que observamos e participamos em ilpuli. Este estudo explora as motivações para aderir aos ilpuli e os benefícios associados. Também analisamos as inovações que, simultaneamente, caracterizaram os ilpuli pandémicos e uma adaptação à crescente influência das igrejas evangélicas na sociedade massai. Embora o aumento da imunidade através de plantas medicinais fosse uma motivação principal, a socialização intensa (indo contra as ordens oficiais de distanciamento social), a solidariedade acrescida, a partilha de conhecimento medicinal e o treino em práticas pastoris foram benefícios inesperados e profundamente valorizados pelos participantes dos ilpuli. Graças às suas virtudes terapêuticas, sociais e espirituais, o olpul surge como resposta à incerteza e ansiedade provocadas por um evento ambiental extremo – a pandemia de COVID-19 –, revelando ainda uma apreciação generalizada e renovada pela pastorícia face à crescente variabilidade ambiental que se vive no sul do Quénia.
PAINEL II – CIÊNCIA PÚBLICA , IRRESPONSABILIDADE ORGANIZADA E DESASTRES AMBIENTAIS
O papel da ciência pública na proteção dos conhecimentos tradicionais dos povos indígenas: um estudo de caso na Amazônia brasileira
Priscilla Cardoso Rodrigues
– Instituto de Ciências Jurídicas da Universidade Federal de Roraima, Brasil – Instituto Insikiran de Formação Superior Indígena da Universidade Federal de Roraima, Brasil – Doutoranda da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, Portugal
A Amazônia é reconhecida como o bioma com maior biodiversidade do planeta, graças, em grande parte, aos conhecimentos tradicionais dos povos indígenas (CTPI) que há milhares de anos promovem o manejo sustentável da região. Entretanto, o avanço do agronegócio, mineração e biopirataria sobre territórios indígenas nela localizados, aliado à inexistência de mecanismos jurídicos efetivos de proteção dos CTPI, têm colocado em risco a existência destes. Nesse contexto, vertentes da ciência pública comprometidas com os povos indígenas têm adotado iniciativas de proteção de seus CTPI, como forma de garantir a sobrevivência física e cultural desses povos e a preservação da Amazônia. Este trabalho objetiva analisar duas iniciativas realizadas no âmbito da Universidade Federal de Roraima (UFRR), localizada no extremo norte da Amazônia brasileira: o Instituto Insikiran de Formação Superior Indígena, que mantém cursos de graduação exclusivamente para indígenas, criados conforme a demanda e sob gestão de povos indígenas locais; e o projeto Encontro de Saberes, que tem promovido a inclusão de conhecimentos tradicionais nos currículos formais do ensino superior, além de mestres e mestras indígenas (e de outros povos tradicionais) como docentes em disciplinas regulares da universidade. O método utilizado nesta investigação é o da observação participante, tendo em vista a atuação desta investigadora em ambas as iniciativas; e utilização de uma abordagem intercultural, decolonial e pluriepistêmica. Como resultados, pretende-se demonstrar a possibilidade de proteção dos CTPI no âmbito do ensino e da ciência públicos a partir das próprias vozes e protagonismo epistêmico dos povos indígenas.
Palavras-chave: conhecimentos tradicionais; povos indígenas; interculturalidade

Ciência pública, antropologia e Fukushima Daichi
Catarina Casanova
– Investigadora Integrada, CIAS, Universidade de Coimbra, Portugal – ISCSP, Universidade de Lisboa, Portugal
O presenta trabalho resulta de uma breve análise baseada numa investigação bibliográfica sobre as responsabilidades respetivas do governo do Japão e da Central de Energia de Fukushima Daichi. Traz também para este debate o papel dos antropólogos nos meses que se seguiram ao desastre e o papel dos movimentos sociais japoneses que se opõem à energia nuclear. A quase total censura na comunicação social relativa aos protestos civis com milhares de pessoas diariamente na rua – que se estenderam durante aos vários meses que se seguiram ao desastre – e que continuam, embora com menor frequência, será abordada, bem como o seu significado. Discutiremos ainda a ação dos Estados-Nação geograficamente mais próximos e por isso mais afetados pelo desastre, sobre as medidas de segurança tomadas (ex.: alimentar) tendo em conta os impactos intergeracionais do desastre, dando exemplos de irresponsabilidade organizada. Abordarei ainda os riscos ligados à instalação de centrais de energia nuclear – ainda que para fins meramente energéticos e portanto pacíficos – em zonas geologicamente instáveis , como na cintura de fogo do Pacifico. Estes riscos serão também abordados, juntamente com as implicações energéticas para os países aí localizados. Terminaremos com uma breve análise sobre o papel da ciência – e da antropologia – para uma compreensão destes desastres de génese em primeiro lugar ambiental, abordando o papel dos antropólogos implicados socialmente contra a energia nuclear, e que defendem sistemas políticos e sociais alternativos ao sistema da era dominante: o capitaloceno.
Palavras-chave: energia nuclear; censura; antropólogos implicados
Explorando as Possibilidades do Bem Viver e do Ecossocialismo como Modelos de Transição Sistêmica Revolucionária
Henrique Pereira Moreschi
– Mestrando em Estudos de Cultura Contemporânea, UFMT, Brasil
Nesta proposta de comunicação, abordarei as teorias do Bem Viver e do Ecossocialismo como práticas e conceitos viáveis para uma transição sistêmica revolucionária. Como biólogo e mestrando em estudos de cultura contemporânea, meu trabalho investiga as formas organizativas desses movimentos e sua aplicabilidade na resolução da crise ambiental atual. O Bem Viver, com origem nas culturas indígenas latino-americanas, propõe um paradigma de viver em harmonia com a natureza, promovendo o equilíbrio entre seres humanos e ecossistemas. Por outro lado, o Ecossocialismo combina elementos do marxismo e socialismo com a ecologia política, visando uma transformação radical da sociedade para enfrentar os desafios ambientais. Neste estudo faço uma análise marxista interdisciplinar, explorando a relação entre teoria e prática desses movimentos, investigando suas estratégias, desafios e potencial para uma transição sistêmica. Com esta pesquisa pretendo contribuir para os debates atuais sobre a crise ambiental e as abordagens que podem moldar um futuro sustentável. Esta comunicação ainda busca contribuir para o diálogo internacional sobre como enfrentar a crise ambiental sob uma perspectiva política, explorando alternativas sistêmicas ao capitalismo e as responsabilidades no contexto do colapso climático mundial.
Palavras-chave: Bem Viver, Ecossocialismo, Transição Sistêmica Revolucionária
MESA REDONDA MULTIDISCIPLINAR: POVOS ORIGINÁRIOS, DIREITOS HUMANOS E RESPONSABILIDADE AMBIENTAL

Alexandra Aragão (Oradora) – Professora Associada, Faculdade de Direito da Univ. de Coimbra, Portugal – Rede Ibero-Americana para a Justiça e Sustentabilidade Social
Dinamam Tuxá (Orador) – Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), Brasil – Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (APOINME), Brasil
André Valécio (Orador) – Centro Universitário Ibero-Americano – Pós-doutorando no Programa de Democracia Política e Direitos Humanos, Universidade de Coimbra, Portugal – CIAS, Universidade de Coimbra, Portugal
Gonçalo D. Santos (Moderador) – Professor Auxiliar, Antropologia, DCV, Faculdade de Ciências e Tecnologia, Univ. de Coimbra – Investigador Integrado, CIAS, Universidade de Coimbra
Com a expansão da exploração dos ecossistemas nas últimas décadas sob a influência de um modelo de crescimento económico mundial cada vez mais extrativista, inúmeros problemas ambientais vêm surgindo em nome do progresso econômico, levando a um clima de crescentes inseguranças planetárias que marca a atual época do Antropoceno nas suas múltiplas formas e nomeações. Estas forças de destruição têm tido um impacto significativo no modus vivendi de Povos Originários em diferentes partes do mundo, em decorrência de suas terras concentrarem grandes riquezas de interesse do mercado, o que resulta em incessantes violações dos direitos dessas comunidades com usurpações e invasões de seus territórios. A partir da conjuntura supramencionada, a presente mesa redonda visa promover um debate alargado e multidisciplinar sobre os possíveis caminhos jurídicos e políticos para salvaguardar os direitos humanos de Povos Originários em contextos como o Brasil, Austrália e China, nessa perspetiva, elucidando a responsabilidade ambiental como uma das trajetórias para a preservação dos sistemas ecológicos e saberes tradicionais dessas comunidades.

A IV Conferência Anual de Antropologia do Ambiente é um evento que tem tido lugar na Sociedade de Geografia de Lisboa e que conta com uma organização composta por 4 instituições:

  1. A Secção de Antropologia da Sociedade de Geografia de Lisboa;
  2. O Centro de Investigação em Antropologia e Saúde da Universidade de Coimbra;
  3. O Centro de Estudos Internacionais do ISCTE-IUL
  4. A Universidade Federal de Mato Grosso, Brasil.

Este ano partimos para uma organização rotativa e embora continuem a estar presentes as instituições que quase sempre acompanharam todos os encontros, a IV Conferência Anual de Antropologia do Ambiente vai ter lugar na Universidade de Coimbra, no colégio de São Bento.

Mais uma vez temos o objetivo de reunir antropólogos e outros cientistas sociais que usam uma visão interdisciplinar e reflexiva sobre o ambiente e em termos académicos vamos fazê-lo na Universidade do país que tem o primeiro mestrado de Antropologia especificamente dedicado às questões do ambiente: a Universidade de Coimbra, no Departamento de Ciências da Vida (mestrado em “Antropologia, Globalização e Alterações Climáticas”).

Podemos assim afirmar que a Universidade de Coimbra e os nossos encontros pretendem estar na vanguarda da antropologia do ambiente, assim como todas as instituições envolvidas. Este ano a nossa conferência tem uma novidade: uma mesa redonda com um conjunto de especialistas e onde também haverá espaço aberto ao público.

PAINEL I ECOSSISTEMAS E URBANIDADE

Humanidade e animalidade, natureza e cidade são pares dicotómicos construídos de modo histórico-cultural, o que esconde o entendimento da sua coexistência e coabitação na vida urbana. A classificação antropocêntrica dos coabitantes humanos e não-humanos das cidades determina os seus destinos a partir de emoções construídas pela colonialidade subjetiva objetivada. As mudanças climáticas e catástrofes ambientais, oriundas da ação humana de forma direta e indireta, também reverberam na vida citadina de modos variados a serviço do capital. Nesse sentido, este painel abarca reflexões acerca da vida multiespécie e multirreino em contextos urbanos, visando compreender os diferentes lugares sociais atribuídos aos animais e plantas desconstruindo a separação conceitual artificial entre cidade e natureza. 

PAINEL IICIÊNCIA PÚBLICA , IRRESPONSABILIDADE ORGANIZADA E DESASTRES AMBIENTAIS

Nas últimas décadas, têm emergido movimentos sociais mais ou menos radicais em diversas partes do mundo expondo a ideologia de irresponsabilidade organizada através da qual estados-nação e grandes corporações procuram tornar-se inimputáveis quanto aos desastres ambientais que estão a comprometer o bem estar do planeta. O painel pretende situar esta questão da irresponsabilidade organizada no contexto dos vários eixos de desigualdade que marcam o funcionamento do sistema político e económico hegemónico que domina o planeta, incluindo profundas divisões Norte-Sul, que tornam o Norte Global mais rico e inimputável ao mesmo tempo que empobrecem e colocam grande parte da responsabilidade ambiental no Sul Global. Finalmente, o painel discute a questão da ciência pública e o papel de cientistas implicados, cientistas esses que denunciam desigualdades e que tomam partido pelos que não têm voz e que são vítimas de desastres ambientais, alguns escondidos do público.

MESA REDONDA MULTIDISCIPLINAR: POVOS ORIGINÁRIOS, DIREITOS HUMANOS E RESPONSABILIDADE AMBIENTAL

Com a expansão da exploração dos ecossistemas nas últimas décadas sob a influência de um modelo de crescimento económico mundial cada vez mais extrativista, inúmeros problemas ambientais vêm surgindo em nome do progresso econômico, levando a um clima de crescentes inseguranças planetárias que marca a atual época do Antropoceno nas suas múltiplas formas e nomeações. Estas forças de destruição têm tido um impacto significativo no modus vivendi de Povos Originários em diferentes partes do mundo, em decorrência de suas terras concentrarem grandes riquezas de interesse do mercado, o que resulta em incessantes violações dos direitos dessas comunidades com usurpações e invasões de seus territórios. A partir da conjuntura supramencionada, a presente mesa redonda visa promover um debate alargado e multidisciplinar sobre os possíveis caminhos jurídicos e políticos para salvaguardar os direitos humanos de Povos Originários em contextos como o Brasil, Austrália e China, nessa perspectiva, elucidando a responsabilidade ambiental como uma das trajetórias para a preservação dos sistemas ecológicos e saberes tradicionais dessas comunidades.

Investigadores convidados:

Alexandra Aragão

Licenciou-se em direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra (agosto de 1990), tem pós-graduação em Estudos Europeus (julho de 1991) e é Mestre em Integração Europeia (junho de 1995). Doutorou-se, também, na Faculdade de Direito (janeiro de 2006), em Ciências Jurídico-Políticas, na área de direito do ambiente. Atualmente é professora associada da Universidade de Coimbra. Leciona as disciplinas de Direito Comunitário do Ambiente e Direito dos Resíduos no curso de pós-graduação do CEDOUA. Tem diversas publicações na área do direito do ambiente e é membro do Conselho de Redacção da Revista do Centro de Estudos de Direito do Ordenamento, do Urbanismo e do Ambiente.

André Valécio

É graduado em psicologia, Mestre em Ecologia Humana e Gestão Socioambiental pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB), 2012, tem mestrado em Ethnologie et Anthropologie Sociale pela École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS)/Paris, 2020, e doutorado em Ciências pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo (USP-EHESS), 2019. Atualmente é pesquisador do Centro Universitário Ibero-Americano e pós-doutorando em Democracia e Direitos Humanos pela Universidade de Coimbra. Tem experiência nas áreas de antropologia e psicologia social, com ênfase em antropologia das populações afro-brasileiras e indígenas da América Latina.

Barbara Glowczewski

É diretora de pesquisa no Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS), Doutora em Letras e Ciências Humanas (1988), membro do Laboratório de Antropologia Social, medalha de prata, em 2018, pelo CNRS, membro do conselho pedagógico na formação de mestrado e estudos dos ecossistemas École des Hautes Études en Sciences Sociales EHESS; membro do conselho pedagógico da formação doutoral do saber em sociedade, EHESS; B. Glowczewski compara as formas de afirmação dos aborígenes da Austrália com outros grupos que se encontram na luta por reconhecimento do direito coletivo à defesa da terra, justiça social e dos ecossistemas, refletindo o valor ancestral e das práticas alternativas que consideram a proteção e o cuidado da natureza como ponto central na discussão.

Dinamam Tuxá

É um coordenador da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) e assessor jurídico da Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (APOINME). Bacharel em Direito (2009) pela Universidade Vale do Rio Doce, Mestre em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília (UnB) e doutorando em direito pela mesma instituição. Atualmente, advogado, militante social indígena, com atuação em vários campos, juventude, meio ambiente e em matérias de demarcações de terras indígenas.

Gonçalo D. Santos

É professor auxiliar de Antropologia Social-Cultural e coordenador do Programa de Doutoramento em Antropologia do Departamento de Ciências da Vida da Universidade de Coimbra. É também Investigador Integrado no CIAS – Centro de Investigação em Antropologia e Saúde da Universidade de Coimbra, no qual coordena a Grupo de Investigação “Tecnociência, Sociedade e Ambiente”. Antes de se mudar para Coimbra, em 2020, ocupou cargos na London School of Economics and Political Science, no Max Planck Institute for Social Anthropology e na Universidade de Hong Kong. É autor de “Chinese Village Life Today” (Univ of Washington Press, 2021) e coeditor de “Transforming Patriarchy” (Univ of Washington Press, 2017). Foi o curador do colóquio internacional “Pluralizando o Antropoceno. Reimaginando o Futuro do Planeta no Século XXI” em Serralves que decorreu em 2020 e 2021.

CALL

NOVO DEADLINE PARA SUBMISSÃO DE RESUMOS: 20 de Setembro de 2023

Enviar propostas de resumos para NOVO ENDEREÇO: 4ConfAmbiente@gmail.com

Informações sobre a aceitação de resumos: 23 de Setembro de 2023

Os resumos para propostas de comunicação podem ter até 250 palavras e até 3 palavras-chave (para comunicações com a duração de 15 minutos no máximo).

Os resumos em formato rtf devem conter a seguinte informação:
– Título;
– Autor(es), respetiva afiliação e pelo menos um endereço e-mail de contato;
– Texto do resumo que refira objetivos/hipóteses, metodologia e principais resultados e
– Indicação do painel que propõe integrar.

Comissão Científica:
Catarina Casanova (CIAS/UC, SGL e CAPP/UL/ISCSP)
Gonçalo Jesus (CIAS/UC e U Lusófona)
Gonçalo Santos (CIAS/UC)
Joana Roque de Pinho (CEI, ISCTE-IUL)
Juliana Abonízio (Pós-Graduação ECCO, Universidade Federal de Mato Grosso, Brasil)
Paulo Seixas (CIAS/UC e CAPP/UL/ISCSP)
Susana Costa (CIAS/UC e PIAGET/Almada)


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